Saúde também se faz com Hip Hop
A Unidade de Saúde da Família do Feital localiza-se no Grande ABC, região metropolitana de São Paulo, mais precisamente no município de Mauá. Pertence à Região V de saúde, que é composta de outras três Unidades Básicas de Saúde, sendo uma delas um Pronto Atendimento, que serve como referência. Faz divisa com os municípios de Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Ribeirão Pires e São Paulo. A área de abrangência da unidade é de 11,4 km2, 31.990 habitantes distribuídos em 8.083 famílias. O número total de jovens entre 14 e 29 anos nesta área é de 17.974, sendo que 9.197 são do sexo feminino e 8.777 do sexo masculino. Toda a população é cadastrada pelo programa de Saúde da Família, porém sofre a invasão dos municípios vizinhos, principalmente Suzano e Ribeirão Pires. Localiza-se numa área de manancial, ocupada em quase sua totalidade, por núcleos de sub-habitações, aglomeradas em morros.Cerca de 30% de sua área, é rural, destoando do aspecto densamente povoado do restante da área de abrangência. O difícil acesso, a proximidade com estradas propicia ilícitos como “desmanches” de veículos, tráfico de drogas, e eventuais fugas. Existe apenas uma área de lazer e três escolas estaduais e duas pré-escolas. No ano de 2003 ocorreram 18 óbitos ocasionados por causas externas e morte violenta, colocando o Feital entre os três bairros mais violentos de Mauá. Ao assumir a gestão local de saúde, no ano de 2000, percebemos o baixíssimo número de jovens a procurar os serviços de saúde, tanto para consultas de rotina e/ou atividades educativas, em contra partida existia uma situação de permanente vandalismo, com pichações, vidros quebrados, etc. Não havia ações conjuntas com as escolas voltadas para prevenção. Diante deste quadro, considerando que a definição de saúde não se restringe apenas em ausência de doença, mas o estado de bem estar físico, mental e social, surgiu então o “Projeto Saúde também se faz com Hip-Hop”, vindo ao encontro das necessidades de resgate da população na faixa etária entre 15 e 29 anos. O projeto teve início com o processo de territorialização, efetuado em parceria com as sociedades amigos de bairro da região que, em conjunto com a equipe multi profissional, levantou as demandas. A partir deste ponto iniciou-se um processo de busca de soluções. Definimos como prioridade a criação de uma interface com a comunidade jovem. Em seminário interno, traçamos como estratégia prioritária, a identificação das lideranças dentro da comunidade, buscando, prioritariamente, aqueles jovens críticos, mas que poderiam tornar-se pró-ativos. O objetivo principal do projeto é criar multiplicadores das ações de saúde na comunidade; assim como a abordagem de temas polêmicos como o uso de substâncias psico-ativas, a discussão de gênero, sexualidade, violência, inclusão social, auto-estima e valorização da vida. A forma de abordagem passa pelo Hip-Hop, movimento que engloba a música, o grafite e o break, dança de rua. Utilizamos também, como veículo de comunicação, a prática de Rapel, esporte que desenvolve a auto confiança, resgatando a auto estima e oferecendo aos jovens, adrenalina pura e simples, livre da presença das drogas.Com esta estratégia buscamos a redução dos índices de gestação na adolescência e mortalidade por causas externas. Ao longo de três anos de projeto obtivemos resultados positivos na diminuição da gestação na adolescência, formação de vínculo dos jovens com as equipes do PSF, ocupação positiva dos espaços da unidade pela comunidade, ausência da depredação do patrimônio da unidade e a revitalização do espaço. Ainda não conseguimos mensurar com clareza a diminuição da mortalidade por causas.