Grau de escolaridade influencia comportamento sexual de adolescentes
O nível de escolaridade influencia no comportamento sexual e reprodutivo dos adolescentes das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. Uma pesquisa publicada por Roberto do Nascimento Rodrigues, da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria do Carmo Fonseca, da Universidade de Barcelona, e Iúri da Costa Leite, do Programa de Computação Científica da Fiocruz, mostra que jovens com cinco ou mais anos de escolaridade são menos propensos a ter a primeira relação sexual na adolescência. Esses indivíduos também usam mais anticoncepcionais na primeira relação e apresentam menores riscos de ter filhos, quando comparados com adolescentes com menos de cinco anos de escolaridade.
Os cientistas utilizaram dados da Pesquisa Nacional Sobre Demografia e Saúde (PNDS) da companhia de pesquisa Macro International, dos Estados Unidos, que coletou informações sobre níveis de fecundidade, mortalidade infantil e materna, anticoncepção, saúde da mulher e da criança, conhecimento sobre DSTs, além de dados sóciodemográficos. Foram coletadas informações de 3.035 mulheres com idades entre 15 e 24 anos, sendo 1.174 do Sudeste e 1.861 do Nordeste. Os resultados foram obtidos a partir da utilização de um modelo estatístico conhecido como modelo de incidência em tempo discreto, que permite estimar os dados de forma mais precisa.
As variáveis de cor e exposição à mídia não foram estatisticamente significantes no que diz respeito à primeira relação, ao uso de preservativo e ao risco de gravidez precoce. Em relação à idade, constatou-se que a probabilidade de ter relação sexual entre 13 e 19 anos aumenta com a idade.
Em relação à região, adolescentes do Sudeste são mais propensas a usar métodos anticoncepcionais na primeira relação sexual do que os do Nordeste. Apesar disso, não foi verificada uma diferença nas chances das adolescentes terem filho em ambas as regiões, o que sugere uma descontinuidade no uso de métodos contraceptivos.
O fator de risco mais importante nas três análises implementadas (ter relação sexual na adolescência, usar métodos contraceptivos na primeira relação e ter filho na adolescência) foi o nível educacional. De acordo com os dados analisados, o risco de uma adolescente com cinco ou mais anos de escolaridade ter um filho é 58% menor do que o risco de uma adolescente com menos de cinco anos de escolaridade. Essas adolescentes também são menos propensas a ter a primeira relação sexual na adolescência e mais propensas a usarem algum método anticoncepcional na primeira relação.
Para o estatístico Iúri da Costa Leite, novas variáveis devem ser utilizadas como possíveis elementos explicativos dos resultados obtidos. "Nós utilizamos os dados mais atuais sobre o comportamento sexual da população brasileira, que datam de 1996. Seria interessante coletar dados mais atuais, alem de pesquisar explicações para alguns resultados obtidos, como a descontinuidade no uso de métodos contraceptivos", comenta.
Fonte: Fiocruz/ Assessoria de Imprensa