Escola Saudável Criança Saudável
É cada vez mais preocupante o estágio em que se encontra a sociedade de consumo. As transformações sociais que levam a hábitos alimentares de risco espalham perigos incontornáveis e medidas urgentes se tornam necessárias. Propaganda e indústria alimentícia eficientes são apontadas como responsáveis pelo aumento da obesidade infantil em todo o mundo. Contra esse mal devem se aliar profissionais de saúde e administradores comprometidos com a vida saudável.
É importante a prevenção da obesidade e de outros males não transmissíveis, como a hipertensão, diabetes e doenças circulatórias em crianças na idade escolar. Pesquisas científicas realizadas em vários pontos do território nacional têm demonstrado que a má alimentação ameaça crianças de todos os extratos sociais.
Relatório da Organização Mundial da Saúde sobre dieta alimentar, nutrição e prevenção de doenças crônicas revela que problemas cardiovasculares, diabetes, cânceres e obesidade já não são exclusivos de países ricos e que a ocorrência dessas doenças se dá na infância ou na vida adulta e tem relação direta com hábitos alimentares e sedentarismo.
A escola é ambiente privilegiado de aplicação de medidas que visem consolidar atitudes favoráveis à preservação da saúde. A promoção de alimentação saudável na escola inclui o papel educativo de se contrapor às informações que bombardeiam as crianças pelos meios de comunicação, seja porque nossa tradição alimentar deva ser valorizada, seja porque os hábitos saudáveis devam ser promovidos. Pesquisas em escolas e ambulatórios infantis demonstram que as crianças têm consumido em demasia alimentos hipercalóricos - as frituras - e vazios de outros nutrientes. Há evidências de que os refrigerantes estejam substituindo o leite e sucos naturais na dieta de crianças e adolescentes. Crianças que procuram ambulatórios têm apresentado, além de sobrepeso ou até obesidade, deficiências de ferro e cálcio, com risco de osteoporose, precária saúde bucal e até hipertensão, devido ao que se conhece como inversão da pirâmide alimentar, isto é, o consumo de alimentos densamente calóricos em prejuízo daqueles ricos em proteínas e outros nutrientes, como vitaminas e minerais. O consumo de refrigerantes cafeinados exerce duplo dano, uma vez quando substitui o alimento nutritivo e ainda ao comprometer a absorção de cálcio pelo organismo.
Em Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, o poder público adotou medidas restritivas ao comércio de guloseimas nas escolas e promoveu o engajamento de toda a comunidade escolar, inclusive famílias, na promoção da alimentação saudável.
A sociedade brasileira já avançou quando regulamentou a necessidade de veiculação de informações nutricionais nos rótulos dos produtos alimentares. Há, porém, duas importantes questões que dificultam a escolha do consumidor. De um lado, o consumidor não é bem informado sobre o que é alimentação saudável e, conseqüentemente, não é capaz de discernir o que é relevante nas informações dos rótulos. Por outro lado, é bombardeado com apelos publicitários que motivam o consumo de produtos por razões que não incluem seu valor nutricional.
É importante que o responsável pela cantina, elemento integrante da comunidade escolar, esteja engajado nesse movimento de mudança de hábitos. Ele deve ser capacitado para compreender o alcance das modificações propostas e para enfrentar o novo desafio que é vender novos produtos. Deverá saber prepará-los e saber vendê-los utilizando-se de bons argumentos de convencimento de sua clientela.
A proibição da propaganda, no âmbito escolar, dos produtos cuja comercialização é vedada - balas, pirulitos, gomas de mascar, biscoitos recheados, refrigerantes e sucos artificiais, salgadinhos e pipoca industrializados, frituras em geral, bebidas alcoólicas, alimentos com mais de 10% de gordura saturada ou que utilizem gordura vegetal hidrogenada - é medida imprescindível para o sucesso da proposta, assim como a discussão na comunidade escolar utilizando conteúdos multidisciplinares e transversais.
As cantinas escolares terão que ser adaptadas para cumprir seu papel social, sob pena de tornarem-se obsoletas, não por força da lei, mas por mudança no perfil do mercado consumidor.
GERLIANE PISSINATI
Nutricionista – CRN 2006101734 ES