Jornal:Estado de São Paulo
Ela sobreviveu à superbactéria
Após 2 meses na UTI, com infecção generalizada, Vivian voltou para casa
Há pouco mais de dois meses, a família da estudante Vivian Zanchetta ouviu dos médicos que ela tinha pouquíssimas chances de sobreviver. A garota, que completou 18 anos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Nove de Julho, foi a primeira paciente diagnosticada no País com infecção grave causada pela bactéria multirresistente Staphilococcus aureus tipo IV, cepa mais virulenta e de difícil combate.
Mas Vivian contrariou os prognósticos pessimistas dos médicos e, há uma semana, finalmente está de volta ao apartamento onde mora com os pais e os dois irmãos, na zona norte. Voltou pesando 33 quilos e carregando quase 20 cicatrizes pelo corpo - marcas dos drenos - e uma bolsa de colostomia.
"Eu chorava muito na UTI. Queria me comunicar e não conseguia", lembra. A bactéria perfurou seu pulmão direito - ela ainda carrega um dreno para evitar nova cirurgia. A septicemia (infecção generalizada) levou à parada dos rins e à perda de grande parte do intestino grosso. No final do ano, passará por uma cirurgia de reconstituição do intestino, quando deve retirar a bolsa de colostomia.
O martírio de Vivian começou no fim de maio. No início, os sintomas da doença foram confundidos com uma gripe e ela acabou internada no Hospital Voluntários. Os médicos não conseguiam chegar a um diagnóstico e, poucos dias depois, a enviaram para a UTI do Nove de Julho, já inconsciente."Entrava naquela UTI desesperada e nunca havia uma resposta sobre o quadro dela", diz a mãe, Vânia.
Os médicos também não chegavam a uma conclusão sobre o diagnóstico e submeteram a menina a inúmeros exames. As suspeitas passaram a ser de leptospirose, hantavirose ou rotavírus, logo descartadas. Finalmente, foi identificado o Staphilococcus aureus tipo IV nos exames do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica (Lemc) da Unifesp. Não se sabe como ocorreu a contaminação, se por ar ou contato, mas o caso serviu de alerta para a comunidade científica, que, desde então, sabe do risco - em nível ainda indefinido - de novos casos.
"Vamos discutir o caso exaustivamente com outros especialistas", diz o infectologista e diretor-clínico do Nove de Julho, Antônio Pignatari.
VIDA QUASE NORMAL
A garota, que pretende voltar aos estudos no próximo ano e sonha em se tornar médica dermatologista, luta agora para se recuperar ao lado da família e do namorado, Marcel Passos, de 19 anos - que a visitava diariamente na UTI. Por enquanto, não está sendo fácil. As cólicas e dores de cabeça são freqüentes e fortes. Nem tudo o que ela come lhe cai bem.
A vida da família agora gira em torno da garota.Todos os móveis, cortinas e paredes do apartamento foram esterilizados para que ela pudesse voltar para casa. "Tinha tudo para dar errado", diz a mãe. "Acho que foi um milagre."