Busca Por Corpo Perfeito Exige Cautela
Quem não quer ter um corpo perfeito como os estampados em capas de revista? O problema é que muitas pessoas ultrapassam os limites na busca desse sonho e compram a idéia de que obter uma aparência de top model é mais importante do que a manutenção da própria saúde. Na ânsia por resultados imediatos, sem esforços, muitos recorrem indiscriminadamente a alternativas como equipamentos de ginástica passiva, aplicação de fosfatidilcolina, bronzeamento artificial, moderadores de apetite, entre outros métodos. Nesse cenário, o crescimento da comercialização de medicamentos e produtos para emagrecimento sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) preocupa as autoridades sanitárias, que têm como uma de suas competências a fiscalização do comércio e da propaganda desses produtos.
Um dos principais problemas do uso indiscriminado de medicamentos é o risco de intoxicação. De acordo com dados do Sistema Nacional de Infecções Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), em 2001 foram registrados 75 mil casos de intoxicação humana. Desses, 21 mil (28% dos casos) foram causados por medicamentos. Os dados mostram também que as mulheres são as principais vítimas de intoxicação por remédios. Segundo levantamento, elas utilizam mais medicamentos que os homens, como, por exemplo, os moderadores de apetite.
"Em 2003, a partir da participação de algumas universidades das cinco regiões do País na monitoração das propagandas de medicamentos, foram apreendidos 78 produtos comercializados sem registro e suspensas nove peças publicitárias, que divulgavam produtos, também sem registro, para perda de peso", destaca a Gerente de Controle e Fiscalização de Medicamentos e Produtos da Anvisa, Maria José Delgado Fagundes.
A gerente enfatiza que, em 2004, com a criação da nova Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, Publicidade, Promoção e Informação de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária, será possível priorizar a retirada, de circulação na mídia, das propagandas de produtos sujeitos ao regime de vigilância sanitária que não estejam registrados na Anvisa.
Maria José adverte que a população tem papel fundamental nesse esforço, ao denunciar a comercialização e a propaganda de produtos irregulares. Ela chama a atenção das pessoas dispostas a tomar algum tipo de medicamento na busca da perfeição estética, para que não o façam antes de procurar orientação médica. Para os que ignoram a recomendação e adquirem produtos sem registro, faz um alerta: "A Anvisa não pode responder pelos males que eles provocam à saúde".
Embora o registro na Agência seja um fator a ser observado, engana-se quem pensa que ele representa passe livre para o consumo de medicamentos sem orientação de um profissional de saúde. No caso dos moderadores de apetite, por exemplo, o acompanhamento médico é fundamental. Esse tipo de medicamento é visto como um dos últimos recursos a serem utilizados, exclusivamente em casos de obesidade mórbida. Por serem compostos por complexos anfetamínicos, ansiolíticos, laxantes, diuréticos, entre outros, podem gerar dependência física e psíquica.
Fosfatidilcolina - Ao lado dos produtos para emagrecer, as cirurgias e outras intervenções estéticas disputam as atenções quando o assunto é a beleza. Entre as polêmicas mais recentes, está a despertada pela fosfatidilcolina, que tem na ausência de registro na Anvisa um dos motivos para sua proibição. O produto era usado no Brasil para dissolver a gordura localizada, procedimento que ficou conhecido como a "dieta da injeção".
No começo do ano passado, a Anvisa proibiu a fabricação, importação, distribuição, comércio e uso, para fins estéticos, de todo medicamento injetável, comercial ou manipulado, que contenha fosfatidilcolina. Além da falta de registro no País, a decisão foi justificada pela ausência de informações sobre a segurança do produto na dissolução de gorduras localizadas. É que, na verdade, esse é um medicamento cardiológico indicado e registrado fora do Brasil para o tratamento de embolia gordurosa. Para o produto voltar a ser comercializado, a indústria farmacêutica deve comprovar, em sua solicitação de registro, a segurança da sua utilização no combate à gordura localizada.
Outros produtos e equipamentos para a saúde também têm merecido a atenção da Anvisa. "Neste ano, a Anvisa vai estender a monitoração da propaganda de medicamentos para outros produtos sob regime de vigilância sanitária", destaca Maria José Delgado Fagundes.
Para proteger os consumidores, a Agência publicou, por exemplo, resolução regulamentando a utilização das câmeras de bronzeamento artificial. Com isso, foram estabelecidas normas como a exigência de exame médico para a realização do procedimento. A Anvisa também está atenta aos equipamentos para ginástica passiva, como os que prometem um abdome definido sem suar a camisa. Em fiscalização realizada em 2001, verificou-se que apenas cinco marcas possuíam registro.
A gerente lembra que, mesmo quando conduzidas por profissionais sérios, as intervenções estéticas envolvem riscos que não podem ser ignorados. "Hábitos mais saudáveis, como a prática de atividades físicas e uma dieta equilibrada, continuam sendo a melhor maneira de ficar em forma", conclui.