Saúde: Receita para dentes saudáveis
Jornal do Brasil (17/10/2003)
Prevenção correta com fio dental e escovação após todas as refeições evita idas desnecessárias ao dentista
A agonia que antecede as visitas ao dentista pode ser evitada em grande parte por um bom trabalho preventivo. Não há momento melhor para lembrar do trabalho de prevenção de cáries, gengivites e periodontites do que às vésperas do dia do dentista, comemorada em 25 de outubro.
O que pouca gente sabe é o momento correto de procurar o dentista. Diretor da Escola de Pós-gradução da Associação Brasileira de Odontologia, Inácio Rocha recomenda que um especialista deve ser procurado sempre que a pessoa apresentar sangramento ao escovar ou passar fio dental, halitose, dentes amolecidos, abertura de espaço entre os dentes e gengiva inchada ou avermelhada.
- Geralmente as pessoas não ligam muito para os sangramentos, que são sintomas iniciais de problemas - afirma Inácio Rocha.
Segundo o professor, a boca é um lugar com características propícias para o desenvolvimento de bactérias: está na faixa de 36 graus, é úmida e sempre tem alimentos. Os micro-organismos são os responsáveis pelas cáries, gengivites, infecção da gengiva, e periodontites, quando a infecção atinge também a raíz do dente.
O professor ressalta que se as complicações periodontais não forem tratadas a tempo, o paciente pode até perder dentes. Para o sorriso não ficar prejudicado, são recomendados dois cuidados básicos: a escovação e o uso do fio dental pelo menos após as refeições.
- Se você tem uma inflamação provocada por placa bacteriana, o problema só será resolvido pela ação mecânica da escovação - avisa Inácio, que destaca também o papel do fio dental pois alcança áreas que ficam fora da ação da escova.
A antiquária Morgana Bastos, de 42 anos, está passando por um tratamento de restauração de blocos e obturações. Se tivesse cuidado melhor da saúde dos dentes quando criança não estaria sofrendo na cadeira do dentista.
- Meu pai me tirava da cama para escovar os dentes. Não tinha o hábito de usar o fio-dental porque não havia tanta informação quanto hoje - conta.
Por melhor que seja a prevenção, o dentista não pode deixar de ser visitado a cada seis meses. A dentista Ana Lúcia Soares considera que a prevenção é o principal avanço da odontologia. Este é um dos motivos pelo qual a dentista acredita que o estigma de que a cadeira do consultório significa sofrimento é cada vez menor. O temível motorzinho, para tratar cáries pode ser substituído pelo laser e as anestesias têm agulhas mais maleáveis.
O dentista não assusta mais a estudante Angela Vilela, de 11 anos. - Eu gosto de ir ao dentista porque sempre fico com um gosto bom na boca - conta a menina.
Risco para gestantes começa pela boca
A famosa recomendação de que a saúde começa pela boca não está relacionada apenas à uma boa alimentação. Estudo realizado pela Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), sob orientação de Ricardo Fischer, relaciona periodontite, inflamação na gengiva que atinge a raíz dos dentes, a partos prematuros.
O estudo constatou que das gestantes que apresentavam periodontite, 78,9% tiveram parto prematuro. Foram acompanhadas 155 mulheres com média de 26 anos e seis meses. Segundo o professor Luis Flávio Moliterno, o descuido com a higiene bucal é um fator de risco para partos prematuros tão grave quanto tabagismo, hipertensão arterial e infecção genital.
- O organismo da mulher reage à infecção liberando prostaglandina E2, um fator químico que estimula a ruptura da membrana uterina - explica o professor da Uerj.
Segundo Moliterno, o aumento da produção da prostaglandina é normal desde que aconteça de forma gradual com a aproximação do fim da gestação. Por isso, recomenda alguns cuidados. - É importante que todas as grávidas tenham acompanhamento odontológico ao fazer o pré-natal.
Entre as mulheres que tinham periodontite durante a gravidez, os bebês nasceram com uma média de 1,9 quilos. No grupo de mães que não tinham o problema a média era de 3, 2 quilos. Um bebê saudável deve pesar pelo menos 2,5 quilos.
O professor destaca além do risco que partos prematuros representam para mães e filhos, o alto custo para manter o bebê em uma UTI neo-natal. O tema é pesquisado em outros países. Para se tornar uma evidência, é necessário que a associação entre os partos e a infecção seja validada em em outros países.